sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Magia e Espiritualidade – 12) Jesus no Exílio e Filón de Alexandria

A tradição cristã, malgrado a grande quantidade de livros apócrifos que falam da infância e juventude do grande Galileu, habitualmente declara que nada se conhece do que aconteceu com Jesus dos 12 aos 30 anos.
A caro custo os da tradição cristã oficial dizem que o jovem Jesus trabalhou com o pretenso pai José como marcineiro. E só parou nesse ofício quando começou a pregar com a idade de 30 anos.
Conforme minha versão, contudo, o lapso supostamente desconhecido da vida de Jesus vai dos 22 anos até os 43 ou mais anos, quando o grande Mestre retornou à Galiléia e Judéia.
Em aí chegando voltou a pregar, não mais como Messias judeu e sim como um Ser Universal, como o Filho do Homem.
Suponho de que Jesus deu-se conta de que o Messias dos judeus era extremamente mundano, já que equivalia a um líder político e religioso, bom apenas para reforçar o judaísmo. E isso encerrava muitos contratempos, além de certas desonestidades ligadas a elitismos e racismo.
É obvio que tudo o que eu disser a respeito dessa fase da vida de Jesus não passará de uma mera suposição, suposição, imaginação, faz-de-conta; mas também pode corresponder a uma grande intuição, profundamente espiritual etc.
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Mas fora as intransigências da tradição cristã, certas evidências – como a de que Jesus, no exílio, foi o autor de um Apocalipse primitivo, bastante diferente dessa versão que circula por aí – indicam que Jesus, no mínimo, deve ter estado em Alexandria do Egito, onde a colônia judaica era muito grande e aberta. Por lá naquele tempo viviam entre 20 a 40 mil judeus ou mais. Em Roma entre 20-30 d.C. só havia mais ou menos 20 mil judeus.
De sua parte, a tradição sapiencial e esotérica de todos os tempos, informa que só os judeus essênios do deserto, no início da vida de Jesus poderiam ter iniciado o jovem Jesus na missão judaico-messiânica que lhe cabia, e que deveria ter sido coroada com a sua unção em Jerusalém, quando ele ainda era jovem e com 20 anos.
Infelizmente nada disso aconteceu, por causa da guerra tempestiva do pai dele, Judas de Gamala, na Galiléia, contra o censo que os romanos queriam implantar e efetuar, e contra a prepotente ordem estabelecida. E não esqueçamos que, derrotado e morto Judas de Gamala, Herodes Antipas, conforme o Terceiro Evangelho, imediatamente ordena que matem Jesus em Jerusalém, já que ele era filho primogênito e herdeiro do rebelde Judas da Galiléia.
Judas ou esse zelota rebelde também poderia ter sido o messias, mas ele transferiu essa possibilidade para o filho, Jesus.
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Na segunda fase da vida do Mestre (com mais de 20 anos) e já no exílio, só os Terapeutas de Alexandria, uma espécie de filial dos essênios do deserto, previamente avisados, é que poderiam ter hospedado o jovem Jesus fugitivo, poderiam tê-lo resguardado e protegido. Instruíram-no, ajudaram-no para que amadurecesse ainda mais e iniciaram-no adequadamente na Sabedoria Antiga, tanto judaica como universal. E quem sabe facilitaram a que se Iluminasse, se Realizasse, transformando o Jesus homem em Filho do Homem ou também em Cristo Cósmico. Tudo isso é uma monstruosidade, uma heresia para a santa madre. E no entanto é a única saída para explicar e fundamentar a grande espiritualidade e mestria do Jesus maduro da segunda fase.
Os essênios do deserto e os terapeutas de Alexandria, dos quais Filón, de Alexandria, revelou os costumes e a doutrina secreta, eram, sobretudo, conhecidos como curadores, já que utilizavam os poderes do espírito.
Tanto os essênios do deserto como os terapeutas de Alexandria eram médicos da alma. Os Terapeutas em especial eram homens que viviam nos arredores das cidades e no deserto e que priorizavam por “cuidar do ser ou da alma” de quem os procurasse.
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Profunda era a espiritualidade deles, tanto em sabedoria judaica como em conhecimento universal. Tudo conheciam sobre plantas e medicina antiga, e inclusive aplicavam a cura pelo magnetismo, e conheciam também uma espécie de alquimia espiritual, da qual, é de se crer, que Jesus se beneficiou enormemente.
No Apocalipse e que com toda a probabilidade o próprio Jesus escreveu, ele fala em cavalo branco, preto, vermelho e amarelo, e estes são símbolos típicos da Alquimia.
Penso que foi graças a algo parecido que Jesus, o pretenso messias judeu, se Iluminou e se transmutou em Jesus Cristo (o Enviado), gerando a partir de si mesmo o Filho do Homem.
Ou seja, Jesus voltou a ser aquele Filho da Luz, Filho do Céu, filho do Altíssimo que sempre foi. Com o nascimento ou vinda para a Galiléia, esta Luz – por causa da educação do próprio pai Judas de Gamala, por causa do meio, e inclusive por causa dos ensinos ortodoxos dos essênios – encolheu-se bastante e quase se apagou. Em seu exílio, Jesus teve que higienizar-se e simplificar-se mentalmente e iluminar-se outra vez. Desta vez em definitivo.
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Como deixei claro no começo deste meu trabalho, o ser ou a alma que vitalizou o corpo humano do menino Jesus, não era uma pequena luz, uma chispa divina ou alma comum, mas sim era o Espírito de um Filho da Luz, de um Filho do Céu, Filho da Primeira Geração e não da segunda geração ou geração terrestre.
O SER que animava Jesus era o Pai de Todas as Coisas (EU SOU).
Mas Ele-EU era também um Ente especial que foi enviado ao plano Terra para que de algum modo ajudasse e espiritualizasse os homens, as ovelhas extraviadas do mundo, eternamente confusas e mal pensantes, e não só as ovelhas perdidas de Israel.
Concebido virginalmente ou mesmo não. Não havia necessidade alguma de uma concepção especial, embora pudesse caber. Acredito que isso pouco importava ao Pai Celestial.
Gerar um filho especial não era problema. O dilema era fazer com que esse Ente Especial se mantivesse puro, e amadurecesse como Santo e Mestre e vingasse em sua missão.
Infelizmente na infância e adolescência de Jesus, a alma cósmica do Filho da Luz se encolheu e quase que se apagou ou sumiu, por excesso de modismo do mundo, por excesso de erudição bíblico-judaica – aliás, o mundo demiúrgico sempre busca anular as incríveis possibilidades e Sabedoria dos Filhos da Luz que por aqui aparecem.
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E também por excesso de rituais na pretensa purificação dos essênios e principalmente por excesso de deveres, condicionamentos prévios, já que Ele, o jovem Jesus, conforme a vontade do pai, somente tinha que ser, e custe o que custar, o messias prometido, o rei de Israel, o guia político e religioso de Israel e o salvador de sua raça.
Toda essa educação completamente humana e completamente racial quase que sufoca a missão cósmica do grande enviado, o Filho do Homem, o Cristo Jesus.
Foi só em seu exílio na Alexandria do Egito, que o Cristo Cósmico, o Filho do Homem se fez presente em Jesus corpo. Ou a Vida fez ressuscitar, graças a uma educação e iniciação diferente dos Terapeutas e graças principalmente à iniciação recebida de Filón de Alexandria (que ensinou de 25 a.C. a 50 d.C.).
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E aqui vem o enigma histórico ou o silêncio do Sábio de Alexandria. O grande escritor, filósofo e sábio Filon nada escreveu sobre Jesus, porque sabia que o rapaz era filho de Judas de Gamala, um terrível rebelde morto por Herodes Antipas e pelos romanos, e Jesus era descendente da família de Davi. E sabia que Jesus, o herdeiro de Judas e com direito ao messianato, havia sido condenado à morte ou também à escravização tanto pelas autoridades judaicas como pelas autoridades romanas de todo o Império, e de Alexandria, principalmente. O grande Mestre manteve o anonimato de Jesus para resguardá-lo e para que este pudesse voltar um dia para o seu país natal, modificado.
E não esqueçamos que Filón foi um Mestre judeu de alto gabarito, do qual e por um certo tempo, Jesus, digamos, foi um freqüentador e discípulo anônimo.
Enquanto pôde Jesus se manteve como um simples discípulo, como um ouvinte. No começo foi assim porque Jesus, magoado com a morte do pai Judas e com a morte do jovem amigo e discípulo Antipas manteve-se calado. Não confundir este com Herodes Antipas.
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Este outro Antipas (ver Apocalipse) deve ter sido assassinado pelos enviados de Herodes. A seguir, porém, o Mestre de Alexandria descobre a identidade de Jesus, seu discípulo misterioso, porque os próprios terapeutas o informaram.
Filón tampouco fala de um Jesus morto e ressuscitado em Jerusalém. Assim aconteceu, ou porque não teve mais notícias dele ou porque o Mestre morreu apedrejado e foi dependurado num madeiro, e isso constituía uma dupla maldição da LEI, que talvez Filón tenha tido o cuidado de não mencionar.
De qualquer maneira, quando Jesus chegou a Alexandria e quando pôde, passou a freqüentar as palestras e exposições públicas de Filón, e graças ao grande Mestre judeu aprendeu a encarar as escrituras judaicas em seu duplo sentido. Isto é, como uma exposição literária e religiosa, ligadas a uma tradição, ou senão como um simbolismo sapiencial e transcendental. Os grandes rabinos e cabalistas é que sabem disso.
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Aliás, de toda essa sabedoria, Jesus assimilou algum coisa e, juntamente com seus próprios ensinos, ele a escreveu em livros especiais. Quando do seu retorno à Judéia, o grande galileu trouxe consigo esses escritos. Inclusive o teor de alguns foram proferidos em público ou senão ensinados em particular aos discípulos.
Quando da morte de Jesus, tais escritos passaram para as mãos do grego Estêvão que era o mais sábios de todos os seguidores de Jesus.
Mais tarde, após provocar a morte de Estêvão, Paulo se apropriou daquilo que Jesus e Estêvão haviam escrito num proto Evangelhos, bem original.
Algo de tais ensinos de Jesus foram parar nas epístolas de Paulo – principalmente para Epístola aos Romanos.
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Quando Paulo se referia ao “meu evangelho” estava falando exatamente dessa apropriação indevida. Mais tarde, por sua vez, os escribas judeu-cristãos dos século I a IV d.C. confiscaram os escritos de Paulo e os remontaram, transferindo muito mais coisas do próprio Jesus e de Estêvão para as cartas de Paulo.
Incluindo-se o proto-evangelho aos Ebionitas ou aos Hebreus, também a partir do proto evangelho de Jesus e Estêvão foram forjados os três evangelhos oficiais (Mateus, Marcos e Lucas). Mas muito depois também se montou o Quarto Evangelho e a Primeira Epístola de João, que só vieram a aparecer quase no final do II século d.C., como obras sui generis.
Mas até aí os três primeiros evangelhos sinóticos já haviam sido distorcidos, retocados e adaptados aos dizeres e ensinos do Antigo Testamento de maneira exagerada, e isso pelos rabinos ou fariseus expatriados, para que “se cumprisse o que havia sido profetizado” (sic).
Quanto ao notável Filón de Alexandria, esse mestre judeu elaborou uma síntese da filosofia judaico-alexandrina, e que já vinha sendo montada e compreendida três séculos antes dele.
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Esta era a doutrina da transcendência absoluta de Deus. Seus idealizadores diziam que, nem pela sensibilidade nem pela inteligência, a criatura ou o homem conseguiria conhecer a Divindade de modo direto. Estes ensinos impunham um limite metafísico à teologia e à filosofia.
Esses tinham elaborado também a doutrina das potências, dos anjos e do logos, graças aos quais e em virtude do amor, Deus se revela, rompendo sua transcendência.
Em suma, Filon sintetiza uma mistura de elementos orientais, da mística de Platão e da própria terminologia bíblica. Alguma coisa desta sabedoria Jesus também assimilou, não esquecendo a sua própria que de alguma maneira superou a de Filon, sempre que devolvermos a Jesus tudo aquilo que havia sido transferido às cartas de Paulo e à Primeira Carta de João.
Will Durant, em sua Historia da Civilização – César e Cristo, tomo segundo – a respeito de Filo ou Filón escreve alguns tópicos importantes que tomo a oportunidade de transcrever, e que auxiliam minhas colocações, nunca dogmáticas nem absolutamente seguras, mas bastante plausíveis:
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“O chefe da delegação judaica que se apresentou diante do Imperador Cláudio era o filósofo Filo, irmão do arabarca , ou agente do comércio exportador de Alexandria.
Eusébio de Cesaréia, um antigo padre cristão, diz que Filón pertenceu a uma velha família sacerdotal. Nada mais sabemos de sua vida, mas o seu caráter generoso se ressalta a partir dos muitos trabalhos que escreveu para expor um judaísmo universal ao mundo grego. Criado em atmosfera sacerdotal, profundamente dedicado ao seu povo, apesar de fascinado pela filosofia grega, Filon tomou como alvo supremo a tarefa de reconciliar as Escrituras e os costumes dos judeus com as idéias gregas, e acima de tudo com a filosofia do ‘sacratíssimo’ Platão. Para isso adotou o princípio central de que todos os acontecimentos, personalidades, doutrinas e leis do Velho Testamento, ao lado do sentido literal pretensamente histórico tem outro sentido alegórico, a sugerir e simbolizar certas verdades morais e psicológicas; baseado nisto, habilitou-se a provar tudo.
Era mais teólogo que filósofo, um verdadeiro místico que antecedeu ou pressagiou o místico e filósofo Plotino e a mentalidade medieval. Para Filón, Deus é o Ser essencial do mundo sutil. É não- material, eterno, indescritível; e conforme Platão, para Filón o mundo material não passava de uma aparência. A razão pode presumir a existência de Deus, mas não lhe pode atribuir qualidades, visto que toda qualidade é uma limitação. Conceber Deus com forma humana é apenas um abuso da imaginação humana, cuja base é a memória e a sensorialidade contaminada. Deus está em toda parte; que lugar pode descobrir o homem onde não esteja Deus? Mas Deus não é tudo; a matéria é também increada e eterna, mas não tem vida, nem movimento ou forma enquanto não se fundir com o verbo, com o sopro divino. Para criar o mundo e dar forma à matéria, e estabelecer relações com o homem, Deus usou uma hoste de seres intermediários, chamados “ anjos” pelos judeus, “daimones” (espíritos) pelos gregos, e Idéias por Platão. Esses seres podem ser considerados como pessoas, embora só existam na Mente Divina ou como os pensamentos e potências de Deus. Juntas, essas potências constituem o que os Estóicos chamavam o Logos ou a Divina Razão, criadora e diretora do mundo. Flutuando entre a filosofia e a teologia, entre idéias e personificações, Filón pensa às vezes no Logos como pessoa; e num momento poético chama-lhe ‘o primeiro filho de Deus’ – Filho de Deus e da virgem Sabedoria (Sophia), e diz que através do Logos (Verbo) Deus se revelou ao homem. (Este Logos, para a teologia católica, virou Cristo-Messias ou Verbo ou a Divina Razão).
Desde que a alma é parte de Deus, o homem pode pela razão erguer-se a uma visão não propriamente de Deus mas a uma visão do Logos. E inclusive se o homem puder se libertar da matéria e da influência dos sentidos (condicionados), graças a exercícios ascéticos ou por uma longa contemplação, ele se tornará por um momento puro espírito, e num momento êxtase consiga ver o próprio Deus...
Filón foi um contemporâneo de Cristo, de quem aparentemente nunca ouviu falar, e sem o saber tomou parte na formação da teologia cristã. Os rabinos (se irritavam e) refrangiam a testa diante de suas interpretações alegóricas, considerando-as heresias ou até mesmo como desculpas à literal obediência da LEI. Encaravam a doutrina do Logos como uma fuga ao monoteísmo. E a paixão de Filón pela filosofia grega era vista como uma assimilação cultural ameaçadora, uma dissolução racial e um eventual desaparecimento da religiosidade judaica dos próprios judeus dispersos...
Filón tentou uma mediação entre o helenismo e o judaísmo. Do ponto de vista da fé judaica falhou, como não podia deixar de ser; do ponto de vista histórico foi bem sucedido – e temos o resultado no primeiro capítulo do Evangelho de João. Will Durant. “ (Digo eu: Neste Quarto Evangelho se fala do Logos ou do Verbo. Sucede, porém, que esse primeiro capítulo, não retocado, foi escrito por Jesus Cristo em seu exílio. E muitas partes do Quarto Evangelho, pretensamente escrito por João, inclusive a Primeira Carta, em verdade também foram escritas por Jesus Cristo, no exílio. Daí a sua beleza, complexidade e profundidade)...

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E digo mais, nesse longo exílio, Jesus além de auto-realizar-se, Iluminar-se, isto é reconquistar sua condição de Filho da Luz, Filho do Céu, Filho do Altíssimo ou Filho do Homem, também passou a conhecer inúmeras outras doutrinas e ensinos não judaicos, como as doutrinas orientais, tipo hinduismo, budismo e taoísmo.
Todavia, quando ele ensinava ou quando escrevia, nunca traiu o Judaísmo em seu melhor aspecto. Apenas o entendeu profundamente e tentou obsequiar aos judeus outros significados para a LEI e Profetas, além de revelar-lhes a novidade ou a Boa Nova do Reino de Deus, nunca dantes difundida. Certos judeus, ao serem batizados de modo especial – com um Batismo de Fogo pela Imposição das Mãos – todos acabariam entendendo e vivenciando o Reino de Deus em si mesmos.
Tudo isso, minha gente, foi vergonhosamente escondido e deturpado.