terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Magia e Espiritualismo – 05) A Arte de Respirar e a Morte

Diz o grande poeta indiano Kabir em seu livro "Cem Poemas"
Todas as coisas são criadas pelo “OM” [ou pelo Verbo, pelo Som Primordial].
O Amor Manifesto é a forma de seu corpo.
No “OM”
[Verbo, Som-Sentir] não há nem formas reconhecíveis, nem qualidades, nem decadência, nem morte. [Portanto, livre de intenções], busca unir-te a ‘ELE-EU’, o SER!
Esse Deus sem formas, diante
[do enxergar vulgar ou diante] dos olhos das criaturas, contudo, assume milhares de formas. [Mas quem refaz essas inumeráveis formas é exatamente esse ver contaminado ou esse ego-pensamento enganador].
‘EU-ELE’ é puro e indestrutível.
É impenetrável e tem a forma do Infinito.
Se em êxtase, ‘ELE-EU’ dança, as formas ondulantes e vitais surgem graças à sua dança.
O Corpo ou o Espírito não conseguem se conter quando tocados por sua graça infinita.
‘EU-ELE’ se esconde em todo conceito
-[pensamento enganador], em todos os gozos
efêmeros
[ou mal sentir] e em todos os pesares.
EU-ELE’ não tem princípio nem fim, mas feito Consciência-Existência-Felicidade, ‘EU-ELE’ tudo encerra.
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O Grande Mestre e Sábio Buda disse um dia:
“…Existe, ó irmãos, o REAL ou o Não-Nascido, o que Não-Vem-a-Ser, o Não-Feito, o Não-Composto… Irmãos, se não existisse o Não-Nascido, se não existisse o que Sendo Não-Vem-a-Ser, o Não-Composto, o Não-Feito, não se perceberia neste mundo [pensado] uma saída, um escape para aquele homem que diz ter nascido, para o que acha que vem-a-ser [em pensamento], para o feito [de modo proposital], para o que é composto… E visto que existe, ó irmãos, o Não-Nascido, que existe O que Não-Vem-a-Ser, [ou O QUE nem começa nem acaba], que existe O Não-Feito, O Não-Composto, por esse mesmo motivo, constata-se uma SAÍDA, um ESCAPE para o [Homem] que diz ter nascido, para o que vem-a-ser [em pensamento], para o feito [de modo intencional], para o composto…”
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Vejamos agora um grupo de aforismos de um conjunto de livros sapienciais, chamado Upanishads, escritos por sábios indianos anônimos, 2500 ou mais anos atrás.
01) - “O homem sacrifica seu alento na palavra e sua palavra no alento.
Quando uma pessoa fala, não respira e quando respira não pode falar.
Tais são as duas oblações ou oferendas imortais e sem fim, [e que o “Divya” ou o Homem-Deus Primordial ou ainda um “Isto-Sentir” pratica a favor do ego].
Quer estejamos dormindo, quer estejamos acordados, sacrificamos [a Verdade-SER] continuamente e sem interrupção.”

02) “Aquilo que dizemos conhecer, isso nos tornamos!”

03) “Pelo sopro todo os seres estão unidos e no sopro todos os seres convergem… É por causa do sopro [que o chakra gástrico ou manipura se manifesta e que] o Sol se levanta, e é no sopro que ele se deita. Graças ao sopro [respiração] os deuses [do quarto chakra ou cardíaco] elaboraram a estrutura viva. Assim é hoje, assim será amanhã. O sopro esta fora, o sopro esta dentro. É preciso inspirar e expirar harmoniosamente, a fim de evitar que se atraia o mal, a dor e a morte reiterada para nos mesmos.”

04) “A essência de tudo é “OM” [Absoluto], ou seja, a sílaba sagrada que também é o sopro-verbo, verbo-sopro. De “OM” provém o canto ou o som vital, do som provém o hino sagrado e adequado (do religioso), do hino sagrado provém a palavra significativa. O Homem é a essência da palavra, a essência do Homem são as plantas. a essência das plantas é a terra, a essência da terra são as águas e as águas da Vida são a essência de todos os seres conhecidos.”
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O Grande Sábio e
Mestre Buda volta a dizer:
“Tudo o que exteriorizamos [e que acabamos reconhecendo] é o resultado do que pensamos. Tem por essência o pensamento, é feito de pensamento [ou também resulta em forma e nome]. Se qualquer pessoa falar e agir com pensamentos corrompidos, então a dor, seguí-la-á como a roda segue as patas do animal atrelado.”
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Outra estância antiga do Upanishads também declara:
“É preciso simplificar e purificar com zelo este pensamento que suscita a ronda existencial [ou o Samsara ou também os nascimentos e as mortes reiteradas]. Na condição de Espírito [‘Divya’ ou ‘EU SOU’ em Renovação] nada podemos dizer nem conhecer sobre nós mesmos. Na condição de entes pensantes, tudo o que pensamos, isso nos tornamos, desde que para tal atuemos em conseqüência. Esse e o eterno mistério!”…
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E mais, outro escritor e Sábio anônimo dos Upanishads em seu tempo declarou:
“Aquele que estando aparentemente imóvel, e se concentra e medita em silêncio, e que além disso é lúcido e está atento, controlando a respiração, esse é um Sábio que busca romper os limites que seu ser pensante [ego] impõe. Esse procura também acabar com a restrição de suas funções, das quais o sopro ou a respiração é a função primordial, pois comanda as outras. Por meio dessa meditação lúcida e atenta, procura despolarizar suas energias vitais, acabando com a dualidade superposta, [acabando com a falsa pessoa-ego pensante e com o mundo pensado], a fim de entrar de modo uníssono e sincrônico no domínio da Vida Una, [representada pelo Sexto e Sétimo Chakras em atividade].”
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E propósito do que acabei de transcrever, digamos, amigo, que um Sábio Iluminado faleça. Isso o próprio Sábio chamará de passamento, de transferência ou de Mergulho no Absoluto.
Ora, o Divya Manifesto (ou Iluminado) sempre Vivencia a falsa morte do homem ou transferência.
E se o Divya Vivencia Isso, Eu-Ele não morre.
O que morre aí não será o corpo objetivado do Sábio, mas será o corpo que os outros pensam e projetam a respeito do Mestre, ou aquilo que eles enxergam e reconhecem feito corpo do Sábio.
Esse pretenso corpo é Algo deles mesmos, mas parece também estar relacionado com a presença do Sábio vivo ou já transferido.
Em verdade todos temos ou somos dois corpos: o que enxergamos e reconhecemos, ou seja nós mesmos densificados, e aquilo que os outros enxergam de nós e reconhecem.
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Geralmente o que morre é o corpo que os outros fazem de nós.
O nosso próprio corpo também morre ou se transfere.
O enterro dos outros acaba com aquela parte que eles mesmos pensaram de nós.
E acaba também com aquela parte de nós mesmos ou pretenso corpo material, daí a morte ser aparentemente imbatível e insuperável.
Os homens mal pensantes a tornam imbatível e insuperável.
Todavia, o corpo denso (físico) de um Sábio, quando este se Ilumina transmuta-se em corpo da Imortalidade ou em corpo de Vãjra.
Em termos objetivos, então, um Sábio-Espírito ou Vãjra, estando vivo, já não mais poderia persistir diante de nós ou continuar presente. Deveria sumir da nossa vida cotidiana como some da tumba, e isso, aliás, aconteceu com Jesus.
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Todavia, o que parece permanecer presente no nosso meio é o Amor do próprio Sábio que se corporifica e se sustenta com outra forma efêmera. Este Amor corporificado se funde com o corpo presumivelmente permanente que os outros forjam em relação ao Sábio.
Sim, em última instância, meu corpo denso ou pretensamente material é fruto do que eu mesmo penso [de modo enganador] e é fruto daquilo que os demais pensam de mim, ao me enxergarem, ao me reconhecerem e ao se relacionarem comigo.
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Pois bem, amigo, de que maneira essa falsa morte e parada respiratória do suposto corpo do Sábio se apresentará para alguém que não raciocina tanto nem costuma respirar tão mal?
E como ela se apresenta para um terceiro observador que só raciocina e reconhece?
Como essa ocorrência ficará representada em sua mente?
Ora, para quem não pensa tanto nem tão mal, o passamento do Sábio talvez só represente o cessar da respiração, da fala.
Quem sabe, equivalerá à suspensão das palpitações essenciais, a uma imobilidade aparente, a um silêncio.
Para esse homem cauteloso, tudo isso equivalerá sim a um desafio, mas principalmente a um profundo sentimento de perda.
Para o outro observador torpe e que exagera com seu mal pensar, essa ocorrência corresponderá a uma desagradável imobilização de um corpo, que há pouco se movia. Equivalerá a um começo de destruição da forma corporal, a uma decomposição iminente, a um mau cheiro, a um aspecto feio e repugnante, a um medo de se contaminar, de adoecer, a um pavor de morrer também, a uma tentativa de prender o fôlego, a uma necessidade de fugir. Em suma, para ele, tudo isso traduzir-se-á como repulsa do corpo falecido como um horror à morte.
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Esse segundo indivíduo, além de não mais reconhecer a Respiração Vital do Sábio, começará a respirar com dificuldade ou de modo truncado, além de ter que aguentar um mau cheiro ou odor que o corpo do Sábio aparentemente em decomposição exala, e que naquele momento o incomoda.
Em verdade esse corpo em decomposição é extrojetado por esse mesmo indivíduo medroso e mal pensante. Por isso, tal terceiro indivíduo terá que se afastar desse mesmo corpo-objeto, só e sempre reconhecível e terá que enterrá-lo, forçosamente.
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Todavia, o verdadeiro veículo do Sábio ou o Corpo Real, Agora transmutado em Corpo de Vãjra, em Corpo da Imortalidade escapará da constatação e percepção viciada desse homem vulgar e mal pensante, com seu pavor da morte e com sua respiração truncada.
Em verdade o corpo aparentemente morto do Sábio, deveria até mesmo desaparecer, sumir, e não sobrar nada na tumba. E de fato desaparece, quando nada sobra do corpo que os outros nos fazem.
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Com a Iluminação, com a Auto-Realização todos os corpos do indivíduo, como o denso, o sutil, e o causal, e que constituíam tal Sábio, transmutam-se no corpo de Vãjra, no Corpo da Imortalidade ou no próprio Filho do Homem.
E se alguma coisa objetiva parece sobrar daquilo que um dia (tempo) foi um Sábio na Terra, isso sempre corresponderá àquilo que os seus discípulos, simpatizantes, seguidores e até mesmo inimigos extrojetam.
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E para encerrar a temática a respeito do “sopro”, da respiração, há um livro importantíssimo que os discípulos de B.S. Rajneesh escreveram e que se intitula O Livro dos Segredos, e que em certo trecho diz, de modo aproximado. Obviamente eu o remanejei.
“A respiração é um fluir constante; nenhuma pausa é possível.
Se por um simples momento alguém se esquece de respirar, já não pode mais viver.
Todavia, EU SOU em todos nós não é solicitado para respirar, porque se fosse, tudo ficaria mais difícil.
Esse ALGO ESPECIAL não pode parar de respirar por um momento porque depois nada poderia ser feito.
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Desse modo, então, EU SOU em nós não está mantendo essa respiração dita mecânica, porque nesse atuar mecânico do respirar, EU SOU não interfere e Ele-EU é desnecessário.
O corpo dorme profundamente e a respiração continua; o corpo está inconsciente e a respiração continua; o corpo está em coma profundo e a respiração continua.
Em nenhum momento EU SOU aí é solicitado.
A respiração é algo que continua a despeito do enganador ficar-cônscio egocêntrico, e a despeito da Consciência-SER ou EU SOU…
…Entrementes, amigo, o ego em ti não pode continuar vivendo se não respira.
Por isso, a respiração e a vida, nesse caso, são praticamente sinônimos.
A respiração é o mecanismo da vida, a vida está profundamente relacionada com a respiração.
É por isso que na Índia a vida e a respiração são chamadas de prana [ou de shakti].
Nós utilizamos uma única palavra para a vida e para a respiração, [ou seja, a palavra shakti, que é o mesmo prana transformado em Kundalini], e prana significa vitalidade, vida. E o que tu chamas tua vida, ó amigo, é só respiração
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E mais, a tua respiração é a ponte entre ti [ego, se estás dormindo; e EU SOU, se Desperto estás] e teu corpo. A respiração te liga a teu corpo, te relaciona com teu corpo. A respiração não é somente uma ponte que te une ao corpo. É também uma ponte entre a tua falsa personalidade [ego], e o verdadeiro [EU SOU], e o universo. O corpo, em última instância, e apenas o universo que veio a ti [ego], que está mais perto de ti [ego].
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O que chamas teu corpo é outra faceta do próprio universo, num nível menor. [‘Tanto embaixo como em cima, tanto em cima como embaixo ‘]. Tudo o que o corpo manifesta também está manifesto no universo, sim tudo, cada partícula, cada célula. Teu corpo é o contato mais próximo com o universo. Teu corpo é a abordagem mais eficaz e mais próxima que se possa ter do universo.
A respiração é a ponte. Se a ponte-respiração for quebrada, não estarás mais no corpo, não estarás mais no universo reconhecível,
O ego em ti se moverá para alguma dimensão desconhecida. Para um astral.
EU SOU em ti, contudo, poderá inclusive não mais situar-se no espaço e no tempo que o pensamento-respiração determinam.”
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“…Se a lucidez e a inteligência em ti puderem fazer alguma coisa com essa respiração mecânica, o ego se sumirá e, subitamente, o SER em ti voltará a prevalecer feito o AGORA do EU SOU.
Se puderes fazer alguma coisa para modificar essa espécie de respiração, [sem que te proponhas, para tal intenciones, maquines com a cabeça], poderás transcender tempo e espaço. Se algo puder ser feito com a respiração, o Homem situar-se-á tanto no mundo e como inclusive além dele.
“A respiração tem dois pontos: – um, é onde ela toca o corpo e o universo, e o outro é onde ela toca o ego em ti e toca também AQUELE [EU SOU] que transcende o Universo.
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Nós, na condição de egos, só conhecemos uma parte da respiração.
Quando ela se move para o corpo, para o universo, nós, grosso modo, acreditamos conhecê-la. Mas a respiração está sempre se movendo do corpo para o ‘não-corpo’ [ou ESPÍRITO] e do ‘não-corpo’ [ESPÍRITO] para o corpo.
O ego em nós não pode e não consegue conhecer o outro ponto da respiração.
Se a lucidez e a inteligência em ti se transformarem em Consciência desse outro ponto, desse outro lado da ponte, desse outro pólo da ponte, subitamente te transformarás e te transportarás para uma dimensão diferente…”
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“[O enfoque que o Tantra tem da respiração difere sobremaneira do enfoque do Yoga]…
O yoga tenta sistematizar a respiração. Claro que, se sistematizares a respiração, tua saúde melhorará bastante.
Se conheceres os segredos do pranayama ou da respiração tua vida se tornará mais longa, terás mais saúde e viverás mais tempo. Ficarás mais forte mais cheio de energia, mais vitalidade, mais vivo ou jovem.
“O Tantra, contudo, não se preocupa com isso.
O Tantra não se preocupa em descrever a respiração como faz a ciência.
Em sistematizar a respiração como faz o yoga, mas, sim, preocupa-se com o uso da respiração, como interiorizá-la sem nada se propor.
O indivíduo não precisa praticar um estilo especial de respiração.
Tem de aceitar a respiração como ela vem.
Tem apenas de, ‘não ficar cônscio de’ (ou não raciocinar), mas sim tornar-se Consciência de alguns pontos da respiração.
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“Quando respiramos existem certos pontos especiais, mas não nos apercebemos deles. Estivemos respirando e continuaremos respirando; nascemos respirando e morreremos respirando. Mas alguns pontos da respiração nos escapam…
…Existem certos pontos da respiração que nunca ninguém jamais observou, e esses pontos são as PORTAS – as portas mais próximas de ti, por onde podes entrar num mundo diferente, num Ser diferente, numa Consciência diferente.
Esses pontos, infelizmente, são muito sutis. [Transcreverei, portanto, apenas um. Quem quiser conhecer os outros pontos, que leia o Livro dos Segredos, de Rajneesh].
“Agora vou abordar cada uma das técnicas:
‘Shiva respondeu: Ó Ser Radiante, está experiência pode surgir entre duas respirações. Depois de inspirar e um pouco antes de expirar – dá-se o benefício!…
…Amigo, fica atento entre esses dois pontos e observa o que acontece. Quando a respiração entrar, observe!
Por um único momento ou por um milésimo de momento, a respiração aí não existe – e isso antes de ela voltar, antes de ela sair.
O indivíduo inspira; existe então certo momento no qual o ar pára.
Depois, o ar sai. Quando o ar sai, novamente, por um único instante, ou uma parte de instante, a respiração pára. Depois o ar entra.
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“Antes de o ar entrar ou sair, existe um momentos no qual o homem não respira.
Nesse momento, o acontecimento é possível, porque, quando o homem não respira, ele não está no mundo.
Amigo, entende isto: quando tu não respiras, é como se estivesses Morto!
Sim, contudo ainda existes, e não estás morto.
O momento, entretanto, é de tão curta duração que jamais o observas ou dele de dás conta.
“Para o Tantra, cada expiração é uma morte e cada nova inspiração é um renascimento.
Inspirar é renascer; e expirar é morrer.
Desse modo, então, em cada respiração, estas morrendo e renascendo.
O intervalo entre os dois movimentos e curtíssimo, mas a observação aguçada e sincera, e a atenção perfeita vão te fazer sentir esse intervalo em que nem inspiras nem expiras.
Se puderes SENTIR tal intervalo – diz Shiva – dar-se-á o BENEFÍCIO!, e então nada mais é necessário. Estarás abençoado.
Tornar-te-ás SABER-e-SENTIR e INTUIR PLENOS, sim, a COISA ACONTECEU!"
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Repito que o Upanishads disse: O homem sacrifica seu alento na palavra e sua palavra no alento.
Quando uma pessoa fala, não respira e quando respira não pode falar. Tais são as duas oblações oferendas imortais e sem fim, [e que o “Divya” ou o Homem-Deus Primordial ou o “Isto-Sentir” pratica a favor do ego]. Quer estejamos dormindo, quer estejamos acordados, sacrificamos [a Verdade-SER] continuamente e sem interrupção.”

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