segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

INÉDITO – 9) JESUS NO EXÍLIO, EM ALEXANDRIA

A tradição cristã, malgrado a grande quantidade de livros apócrifos que falam da infância e juventude do grande Galileu, habitualmente declara que nada se conhece do que aconteceu com Jesus dos 12 aos 30 anos.
Conforme minha versão, contudo, o lapso supostamente desconhecido da vida de Jesus vai dos 20 ou 22 anos até os 43 anos ou mais, quando o grande Mestre retorna à Galiléia e Judéia e volta a pregar, não mais como Messias judeu e sim como Filho do Homem universal. Suponho que Jesus deu-se conta de que a condição de Messias era extremamente mundana, porque o messias era um líder político e religioso, e isso encerrava muitos contratempos, além de certas desonestidades ligadas a elitismos e racismo.
É obvio que tudo o que eu disser a respeito dessa fase da vida de Jesus não passará de opinião, mera suposição, imaginação, faz-de-conta. E por que não poderia se tratar de uma revelação possivelmente espiritual etc.?
Mas fora as intransigências da Tradição Cristã, algumas evidências – como a de que Jesus, no exílio, foi o autor de um Apocalipse primitivo, bastante diferente dessa versão que circula por aí – indicam que Jesus deve ter estado em Alexandria do Egito, no mínimo, onde a colônia judaica era muito grande e aberta. Por lá naquele tempo viviam entre 20 a 40 mil judeus.
De sua parte, a tradição sapiencial e esotérica de todos os tempos, informa que no começo só os Essênios do deserto poderiam ter iniciado o jovem Jesus na missão messiânica que lhe cabia, e que deveria ter sido coroada com a sua unção em Jerusalém, numa fase ainda jovem. Infelizmente nada disso aconteceu, por causa da guerra tempestiva do pai d’Ele, Judas de Gamala, na Galiléia, contra a prepotente ordem estabelecida, e por causa também da perseguição e da ordem de morte que o governador Herodes Antipas da Galiléia desencadeou contra o jovem Jesus, o primogênito de Judas.
Na segunda fase da vida do Mestre, só os Terapeutas de Alexandria, uma espécie de filial dos essênios do deserto, previamente avisados, é que poderiam ter hospedado um jovem Jesus fugitivo, poderiam tê-lo resguardado e protegido. Poderiam instruí-lo, fazê-lo amadurecer e iniciá-lo adequadamente na Sabedoria antiga, tanto judaica como universal. E quem sabe lhe tenham facilitado a sua Iluminação, Realização.
Os essênios do deserto e os terapeutas de Alexandria, dos quais Filón de Alexandria, revelou os costumes e a doutrina secreta, eram sobretudo conhecidos como terapeutas ou curadores mediante os poderes do espírito. Os essênios do deserto e os terapeutas de Alexandria eram médicos da alma. Os Terapeutas em especial eram homens que viviam nos arredores das cidades e no deserto e que priorizavam por “cuidar do ser ou da alma” de quem os procuravam. Profunda era a espiritualidade deles, tanto em sabedoria judaica como em conhecimento universal. Tudo conheciam sobre plantas e medicina antiga, e praticavam inclusive a aplicação da cura pelo magnetismo, e conheciam também uma espécie de alquimia espiritual, da qual, é de se crer, que Jesus se beneficiou enormemente. (Na Revelação ou Apocalipse, Jesus fala em cavalo branco, preto, vermelho e amarelo, símbolos da Alquimia). Penso que foi graças a algo parecido que Jesus o Messias se Iluminou e se transmutou em Jesus, o Filho do Homem. Ou seja, voltou a ser aquele Filho da Luz, Filho do Céu, filho do Altíssimo que sempre foi, mas que com a educação paterna e do meio recebida, condicionando-o, havia quase se encolhido e apagado
Como deixei claro no começo deste meu trabalho, o ser ou a alma que vitalizou o corpo humano do menino Jesus, não era uma pequena luz, uma chispa divina ou alma comum, mas sim era o Espírito de um Filho da Luz, de um Filho do Céu, Filho da Primeira Geração e não da segunda ou geração terrestre. O SER que animava Jesus era um Ente especial e que foi enviado ao plano Terra para de algum modo ajudasse e espiritualizasse os homens, as ovelhas extraviadas do mundo e eternamente confusas e mal pensantes.
O menino Jesus pode ter sido concebido virginalmente, e mesmo não. Não havia necessidade alguma de uma concepção especial, embora pudesse caber. Acredito que isso pouco importava ao Pai Celestial. Gerar um filho especial não era problema. Problema era fazer com que esse ente especial se mantivesse puro, e amadurecesse como Santo e Mestre e vingasse em sua missão. Infelizmente na infância e adolescência de Jesus, a alma cósmica do Filho da Luz se encolheu e quase que se some, por excesso de modismo do mundo – aliás, o mundo sempre busca anular as incríveis possibilidades e Sabedoria dos Filhos da Luz que por aqui aparecem – por excesso de erudição bíblico-judaica, por excesso de rituais na pretensa purificação dos essênios e principalmente por excesso de deveres, condicionamentos prévios, já que Ele, o jovem Jesus tinha que ser, custe o que custar, o messias prometido, o guia político e religioso de Israel e o salvador de sua raça, somente. Toda essa educação completamente humana e completamente racial quase que sufoca a missão cósmica do grande enviado, o Cristo Jesus.
Foi só em seu exílio na Alexandria do Egito, que o Cristo, o Filho do Homem apareceu em Jesus ou ressuscitou, graças a uma educação e iniciação diferentes dos Terapeutas e graças principalmente aos ensinos recebido de Filón de Alexandria (de 25 d.C. a 40 d.C., em segredo), e que era um mestre judeu de alto gabarito, do qual Jesus foi um discípulo anônimo, por certo tempo. É por isso que Filón em seus escritos e livros não menciona Jesus de Gamala, porque não o conhecia nem como pretenso Messias exilado, nem quem sabe como discípulo e nem como ouvinte, isto porque Jesus, magoado com a morte do Pai Judas e do jovem amigo e discípulo Antipas (este deve ter sido assassinado pelos enviados de Herodes), manteve-se calado. Filón tampouco fala de um Jesus morto e ressuscitado em Jerusalém, ou porque não teve mais notícias dele, ou porque o Mestre morreu apedrejado e foi dependurado num madeiro, e isso constituía uma dupla maldição da LEI, que talvez Filón tenha tido o cuidado de não mencionar. De qualquer maneira, quando Jesus chegou a Alexandria e quando pôde passou a freqüentar as palestras e exposições públicas de Filón, e graças ao grande Mestre judeu aprendeu a encarar a escrituras judaicas em seu duplo sentido, como uma exposição literária e religiosa, ligadas a uma tradição e como simbolismo sapiencial e transcendental. Os grandes rabinos e cabalistas é que sabem disso.
Filón, o notável mestre judeu elaborou uma síntese da filosofia judaico-alexandrina elaborada três séculos antes dele. A doutrina dele da transcendência absoluta de Deus, e que, nem pela sensibilidade nem pela inteligência, tornava possível à criatura conhecer a Divindade, impunha um limite metafísico à teologia e à filosofia. Sua doutrina das potências, dos anjos e do logos, pelos quais, em virtude do amor, Deus se revela, rompendo sua transcendência, sintetiza uma mistura de elementos orientais, mística de Platão e a terminologia bíblica.
Will Durant, em sua Historia da Civilização – César e Cristo, tomo segundo – a respeito de Filo ou Filón escreve alguns tópicos importantes que vou tomar a oportunidade de transcrever, pois podem auxiliar as minhas colocações nunca dogmáticas, nem absolutamente seguras, mas bastante plausíveis:
“O chefe da delegação judaica que se apresentou diante do Imperador Cláudio era o filósofo Filon, irmão do Arabarca , ou agente do comércio exportador de Alexandria. Eusébio, um antigo padre cristão, o dá como pertencendo a uma velha família sacerdotal. Nada mais sabemos de sua vida, mas o seu caráter generoso ressalta dos muitos trabalhos que escreveu para expor o judaísmo ao mundo grego. Criado em atmosfera sacerdotal, profundamente dedicado ao seu povo apesar de fascinado pela filosofia grega, Filon tomou como alvo supremo a tarefa de reconciliar as Escrituras e os costumes dos judeus com as idéias gregas, e acima de tudo com a filosofia do ‘consagradíssimo e sagrado’ Platão. Para isso adotou o princípio central de que todos os acontecimentos, personalidades, doutrinas e leis do Velho Testamento têm ao lado do sentido literal outro alegórico, e simbolizam certas verdades morais e psicológicas; baseado nisto, habilitou-se a provar tudo.
Filon era mais teólogo que filósofo, um verdadeiro místico a pressagiar o místico e filósofo Plotino e a mentalidade medieval. Para Filon, Deus é o ser essencial do mundo sutil, não material, eterno, indescritível; conforme Platão, o mundo material não passava de uma aparência. A razão pode presumir a existência de Deus, mas não lhe pode atribuir qualidades, visto que toda qualidade é uma limitação. Concebê-lo com forma humana é apenas uma concessão à imaginação humana, cuja base é sensorial. Deus está em toda parte; que lugar pode descobrir o homem onde não esteja Deus? Mas Deus não é tudo; a matéria é também increada e eterna, mas não tem vida, movimento ou forma enquanto não fundida com o verbo, com o sopro divino. Para criar o mundo e dar forma à matéria, e estabelecer relações com o homem, Deus usou uma hoste de seres intermediários, chamados anjos pelos judeus, daimones pelos gregos e Idéias por Platão. Esses seres podem ser considerados como pessoas, embora só existam na Mente Divina, como os pensamentos e potências de Deus. Juntas, essas potências constituem o que os Estóicos chamavam o Logos ou a Divina Razão, criadora e diretora do mundo. Flutuando entre a filosofia e a teologia, entre idéias e personificações, Filon pensa às vezes no Logos (E Este é o Verbo de Jesus Cristo) como pessoa; e num momento poético chama-lhe ‘o primeiro filho de Deus’ – Filho de Deus e da virgem Sabedoria, e diz que através do Logos (Verbo) Deus se revelou ao homem. Desde que a alma é parte de Deus, o homem pode pela razão erguer-se a uma visão não propriamente de Deus mas do Logos. E talvez que se pudermos nos libertar da matéria e dos sentidos, e pelos exercícios ascéticos ou por uma longa contemplação tornar-nos por um momento puro espírito consigamos num momento de êxtase ver o próprio Deus...
Filo foi um contemporâneo de Cristo, de quem aparentemente nunca ouviu falar, e sem o saber tomou parte na formação da teologia cristã. Os rabinos refrangiam a testa diante de suas interpretações alegóricas, considerando-as como escusas à literal obediência da LEI. Encaravam a doutrina do Logos como uma fuga ao monoteísmo, e na paixão de Filo pela filosofia grega viam uma ameaça de assimilação cultural, uma dissolução racial e conseqüente desaparecimento dos judeus dispersos...
Filon tentou a mediação entre o helenismo e o judaísmo. Do ponto de vista judaico falhou; do ponto de vista histórico foi bem sucedido – e temos o resultado no primeiro capítulo do Evangelho de João. Will Durant. “ (Neste Quarto Evangelho se fala do Logos ou do Verbo. Sucede, porém, digo eu, que esse primeiro capítulo, não retocado, foi escrito por Jesus Cristo em seu exílio. E muitas partes do Quarto Evangelho atribuído a João, e Primeira Carta inclusive, também foram escritas por Jesus Cristo, no exílio. Daí a sua beleza, complexidade e profundidade)...
E digo mais, nesse longo exílio, Jesus além de auto-realizar-se, Iluminar-se, isto é reconquistar sua condição de Filho da Luz, Filho do Céu e Filho do Homem, também passou a conhecer inúmeras outras doutrinas e ensinos não judaicos, como as doutrinas orientais, tipo hinduismo, budismo e taoísmo, mas nunca traiu o Judaísmo em seu melhor aspecto. Apenas o entendeu profundamente e tentou obsequiar aos judeus outros significados para a LEI e Profetas, além de revelar a eles a Boa Nova do Reino de Deus - não de Jeová - nunca dantes difundida, e que todos podiam entender e vivenciar. Lamentavelmente, os teólogos cristãos transformaram a vinda do Reino de Deus na vida do Reino de Jeová e seu Messias, quando o Reino que Jesus anunciava nunca teve nada a ver com isso.

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